top of page

ABUSO




13/05/2020

Texto produzido por Gilceley Santos no Seminário SublimeAção

Trata-se de um tema que tem na pedofilia seu exemplo categórico, mas que não se restringe a ele, embora seja exemplar esta forma de abuso para chegar onde vou lhes levar.

Acontece quando um outro que esta no comando da ação aborda a criança num modo de violência que a leva a ficar sentindo-se totalmente abandonada, separada do outro em seu desejo.

Uma relação entre um adulto que por definição se coloca como superior estabelecendo uma posição de hierarquia, afinal supostamente seria ele quem poderia cuidar dela, mas que ao invés disso coloca-a num lugar objetalizado a serviço de um gozo perverso narcísico sem considerar nenhum grau de subjetividade desta criança, nenhuma possibilidade de contato real com ela e seu desejo inaugurando assim um trauma que é menos de ordem sexual e mais de ordem afetiva, podendo levar o sujeito por toda a vida a vincular um terror à sexualidade.

É claro que as consequências deste acontecimento costumam se espalhar para outras formas de relações produzindo ressonâncias e até mesmo a um certo tipo de relações abusivas que podem se repetir em muitos outros contextos.

Ocorre que este exemplo é emblemático de outras relações em suas formas de atuações não menos perversas.

Por exemplo podemos pensar no capitalismo, no fascismo, no machismo, no racismo etc.

O que se engendra aí é de ordem perversa, no sentido patológico do termo, repetindo nesses modos de relação sempre uma imposição de paralisia dos corpos, no que estes carregam de força pulsional em seus desejos.

É o Freud nomeou Pulsão de Morte.

A resistência política, ética e clínica que nos cabe a esta altura é sair da paralisia dando assim uma forma de dignidade a quem até então era tido como vítima, deslocando-se deste lugar, retomando a pulsão ativa em mãos, saindo desta cena deste personagem e desmanchando a trama. Tarefa dificílima, de uma vida. Difícil sair da condição de ser abusado pelo recorrente desejo do outro em suas facetas fascistas, muitas vezes travestidos até mesmo de idólatras, maternais amorosos, paternais protetivos ou messiânicos.

Sair da condição de objeto é responsabilizar-se pela parte que nos cabe, visto que em sua maioria, o que nos mantem neste lugar é um desejo narcísico de se fazer amar e reconhecer pelo outro.

O exercício que se faz necessário para sair desta condição de abusado portanto é o de um deslocamento intensivo e extensivo de um Desejo de Reconhecimento ao Reconhecimento do Desejo,onde este já não tolera mais abrir mão da atividade, mas que agora não se reduz a uma atividade por um si mesmo mas sim “ A Ti Vida, de Verdade”.

E quanto ao sentimento de submissão/objetalização que agora vivemos diante da atual desordem política e de vida em sua existência?

A sensação volta a ser a de estarmos refém do abuso que nos sequestra a força da Pulsão, impedindo-nos de tomar decisões, impedindo-a de seguir seu destino ético de vida que é perseverar, mas também, nos dando um diagrama muito claro desse abuso sofrido, mesmo que sem rosto, sem culpado identificado, sem alguém a quem se possa condenar por essa atual condição.

Este momento de reviver a angustia da objetalização pode para alguns justamente fazer surgir mais do nunca a compreensão da importância de se ter de retomar a força de poder definir nosso destino. É uma chance ímpar de se poder chegar a ter mais consciência da necessidade de tomar as rédeas da pulsão de novo ou de vir a exerce-la agora ou daqui por diante acima de tudo.

No outro extremo e ao contrário, outros podem se sentir tão ameaçados que podem fazer surgir dos porões das cavernas infantis rememoradas de um corpo abusado, a excreção sobre o outro dos horrores por eles dantes vividos. Essa figura enlouquecida, cada vez mais cadavérica projeta sobre o outro como solução final, todo seu mal-estar interno para fora, chegando ao extremo de querer matar, exterminar, extinguir aquele que vive fora de seus registros perversos.

É tempo de agir. É tempo de recobrar forças. É tempo de responsabilizar-se pela dissolução da cena sádica/masoquista perversa que nos convidam a perpetuar.

Pois só há uma verdadeira soberania da qual não podemos nos livrar e esta é de ordem pulsional. E para que desejaríamos dela nos livrar?

A Ti Vida de Verdade e paz na terra a todos de força e coragem para por ela se responsabilizar.

Vamos em frente!

bottom of page